segunda-feira, julho 26, 2010
A vida...
Depois de algum tempo aprendes a diferença, a subtil diferença, entre dar a mão e acorrentar uma alma.
E aprendes que amar não significa apoiar-se e que companhia nem sempre significa segurança.
E começas a aprender que beijos não são contratos, presentes não são promessas.
E não importa o quanto boa seja uma pessoa, ela vai ferir-te de vez em quando e precisas perdoa-la por isso.
Aprendes que falar pode aliviar dores emocionais.
Descobres que se leva anos para se construir confiança e apenas segundos para destrui-la, e que podes fazer coisas num instante, das quais te arrependeras pelo resto da vida.
Aprendes que verdadeiras amizades continuam a crescer mesmo a longas distancias.
E o que importa não é o que tu tens na vida, mas quem tens na vida.
Descobres que as pessoas com quem mais te importas na vida, são tiradas de ti muito depressa; por isso, sempre devemos deixar as pessoas que amamos com palavras amorosas; pode ser a última vez que as vemos.
Aprendes que paciência requer muita prática.
Aprendes que quando estás com raiva tens o direito de estar com raiva, mas isso não dá o direito de seres cruel.
Aprendes que nem sempre e suficiente ser perdoado por alguém. Algumas vezes, tens que aprender a perdoar-te a ti mesmo.
Aprendes que com a mesma severidade com que julgas, tu serás em, algum momento, condenado.
Aprendes que não importa em quantos pedaços teu coração foi partido, o mundo não pára para que o consertes.
E, finalmente, aprendes que o tempo não é algo que possa voltar para trás.
Portanto, planta teu jardim e decora tua alma, ao invés de esperar que alguém te traga flores.
E percebes que realmente podes suportar... Que realmente és forte, e que podes ir muito mais longe depois de pensar que não se pode mais. E que realmente a vida tem valor e que tu tens valor diante da vida. E só nos faz perder o bem que poderíamos conquistar, o medo de tentar...
Florbela Espanca
segunda-feira, junho 28, 2010
Girassóis: uma paixão!
Renascer II
Vejo-me sentado,
Naquela rocha;
Lá no alto,
Do penhasco.
Ali sentado
Qual vigia,
Vislumbro o mar,
Até onde se mistura,
No ar,
Com o céu.
Aqui no alto,
Sinto ânsias de voar.
Como gaivotas, que vejo
Preguiçosamente no ar.
(...)
E todas as dores
De perdidos amores
Renascem como flores.
______________
Pintura: Lizette Inzunza, Aguarela, "Sola Frente al Mar"
Poema: Augusto Gil
Renascer
Se às vezes digo que as flores sorriem
E se eu disser que os rios cantam,
Não é porque eu julgue que há sorrisos nas flores
E cantos no correr dos rios...
É porque assim faço mais sentir aos homens falsos
A existência real das flores e dos rios.
Porque escrevo para eles me lerem sacrifico-me às vezes
Á sua estupidez de sentidos... Não concordo comigo mas absolvo-me,
Porque só sou essa cousa séria, um intérprete da Natureza,
Porque há homens que não percebem a sua linguagem,
Por ela não ser linguagem nenhuma.
___________________
Pintura: Eduardo Gouveia, Renascer
Óleo sobre tela
40cm x 45cm
Poema: Alberto Caeiro, "Se às vezes digo que as flores sorriem"
terça-feira, junho 22, 2010
São João
O martelo de S. João foi inventado em 1963 por Manuel António Boaventura, industrial de Plásticos do Porto, que tirou a ideia num saleiro/pimenteiro que viu numa das suas viagens ao estrangeiro. O conjunto de sal e pimenta tinha o aspecto de um fole ao qual adicionou um apito e um cabo vindo a incorporar tudo no mesmo conjunto e dando-lhe a forma de um martelo. O objectivo inicial era criar mais um brinquedo a adicionar à gama de que dispunha.
Nesse mesmo ano os estudantes abordaram o Sr. Boaventura com o intuito de lhes ser oferecido para a queima das fitas um “brinquedo ruidoso”, ao que o Sr. Boaventura acedeu oferecendo o que de mais ruidoso tinha...os martelinhos. A queima das fitas foi um sucesso com os estudantes a dar “marteladas” o dia todo uns nos outros e logo os comerciantes do Porto quiseram martelinhos para a festa de S. João.
Esse ano o stock era pouco mas no ano seguinte os martelos foram vendidos em força para esta festa e ao mesmo tempo oferecidos pelo Sr. Boaventura a crianças do Porto.
Assim o martelinho entrou nas festa do S. João sendo aceite incondicionalmente pelo povo nos seus festejos.
A venda fez-se normalmente durante 5 ou 6 anos até que um dia o Vereador da cultura da Câmara do Porto, Dr. Paulo Pombo e o Presidente da Câmara do Porto Engº Valadas chegaram á conclusão de que este brinquedo ia contra a tradição e decidiram fazer uma queixa ao Governador Civil do Porto Engº Vasconcelos Porto, queixa esta que foi aceite tendo mesmo o Governador Civil notificado o Sr. Boaventura de que no ano seguinte estava proibido de vender martelos para a festa de S. João, mandando avisar que quem fosse apanhado com martelos na noite de S. João seria multado em 70$00 (na época ganhava-se cerca de 30$00), e mandando retirar os martelos das lojas comerciais onde estavam á venda. O que é certo é que o povo não acatou esta decisão e continuou a usar o martelo nos seus festejos.
O Sr. Boaventura ao ver-se lesado e injustiçado nesta decisão do Governo Civil levou então a questão a tribunal, perdendo em 1ª e 2ª instância. (estava-se no tempo de Américo Tomás e Marcelo Caetano e consequentemente da PIDE). No entanto no ano de 73 recorreu para o Supremo Tribunal e ganhou a questão, podendo assim continuar a fazer os martelinhos que se tornaram tradição popular não só no S. João do Porto, como no S. João de Braga, Vila do Conde, Carnaval de Torres Vedras, Passagens de ano, campanhas de partidos políticos, etc.
Os martelos sofreram inúmeras alterações ao longo dos anos mas a tradição ficou e a sua história perdeu-se com o tempo...
_______________________
Pintura: Di Cavalcanti, "São João"
Texto: http://martelodesjoao.blogspot.com
Depois de mais de 2 anos de ausência... Será também este o meu regresso anunciado?
sábado, março 22, 2008
sexta-feira, junho 29, 2007
quinta-feira, junho 28, 2007
quinta-feira, maio 03, 2007
Em Todos e Em Nenhum
Exílio e memória porejam das madeirasem que inflexivelmente penetras para extrairo vitríolo das criaturas condenadas ao mundo
(A Goeldi - Carlos Drummond de Andrade)
Humanidade
Uma estrutura molecular complexa, com certa estabilidade, e interações, que ri e chora, que faz a arte e a ciência.
Um dito organismo biológico, que em sua cegueira busca ver um significado filosófico para sua existência.
Um elemento microcósmico em tempo e em espaço, um grão de areia interrelacionado, lutando por um mundo mais justo.
Um complexo celular a procura do certo e do errado.
Uma interpretação da realidade, uma estatística, um indivíduo abstrato, um modelo analítico,
Repleto de uma alma imensa, contando histórias de heroísmo e honra e de tristezas infinitas,
Que pode amar com toda a sua força, e também pode sofrer até o fim.
Somos nós, a humanidade, em cada um.
Um dito organismo biológico, que em sua cegueira busca ver um significado filosófico para sua existência.
Um elemento microcósmico em tempo e em espaço, um grão de areia interrelacionado, lutando por um mundo mais justo.
Um complexo celular a procura do certo e do errado.
Uma interpretação da realidade, uma estatística, um indivíduo abstrato, um modelo analítico,
Repleto de uma alma imensa, contando histórias de heroísmo e honra e de tristezas infinitas,
Que pode amar com toda a sua força, e também pode sofrer até o fim.
Somos nós, a humanidade, em cada um.
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Humanidade - Filipo Perotto
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Picture:
OSWALDO GOELDI
(Rio de Janeiro, RJ, 1895 - Rio de Janeiro, RJ, 1961)Chuva, s/d xilogravura colorida sobre papel
segunda-feira, março 19, 2007
Art quotes....
“Art washes away from the soul the dust of everyday life.”
Pablo Picasso
........................
“I found I could say things with color and shapes that I couldn’t say any other way–things I had no words for.”
Georgia O’keeffe
.............................
“An art which isn’t based on feeling isn’t an art at all … feeling is the principle, the beginning and the end; craft, objective, technique - all these are in the middle.”
Paul Cezanne
.......................
“Colour is the key. The eye is the hammer. The soul is the piano with its many chords. The artist is the hand that, by touching this or that key, sets the soul vibrating automatically.”
Wassily Kandinsky
................................
“The fact that people break down and cry when confronted with my pictures shows that I can communicate those basic human emotions.. the people who weep before my pictures are having the same religious experience I had when painting them. And if you say you are moved only by their color relationships then you miss the point.”
Mark Rothko
......................
“When I am in a painting, I’m not aware of what I’m doing. It is only after a sort of ‘get acquainted’ period that I see what I have been about. I have no fears about making changes, destroying the image, etc, because the painting has a life of its own. I try to let it come through. It is only when I lose contact with the painting that the result is a mess. Otherwise there is pure harmony, an easy give and take, and the painting comes out well.”
Jackson Pollock
Pablo Picasso
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“I found I could say things with color and shapes that I couldn’t say any other way–things I had no words for.”
Georgia O’keeffe
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“An art which isn’t based on feeling isn’t an art at all … feeling is the principle, the beginning and the end; craft, objective, technique - all these are in the middle.”
Paul Cezanne
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“Colour is the key. The eye is the hammer. The soul is the piano with its many chords. The artist is the hand that, by touching this or that key, sets the soul vibrating automatically.”
Wassily Kandinsky
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“The fact that people break down and cry when confronted with my pictures shows that I can communicate those basic human emotions.. the people who weep before my pictures are having the same religious experience I had when painting them. And if you say you are moved only by their color relationships then you miss the point.”
Mark Rothko
......................
“When I am in a painting, I’m not aware of what I’m doing. It is only after a sort of ‘get acquainted’ period that I see what I have been about. I have no fears about making changes, destroying the image, etc, because the painting has a life of its own. I try to let it come through. It is only when I lose contact with the painting that the result is a mess. Otherwise there is pure harmony, an easy give and take, and the painting comes out well.”
Jackson Pollock
Looking for Harmonie
".. The most important in my work, is to be connected and linked with the painting, which open the possibility to create a real visual art. The technical aspects; composition, equilibrium, color harmonies, etc… serves to express with freedom feelings that came to my heart……forms, lines sprout showing in visual terms this feelings, sometimes a very silent feeling, abstraction with rhythmic movement. My work is just abstract, expression abstract, gestural or minimalist."
Antunes
Picture:
Aureo Antunes
Category: Mixed Media
Title: Looking for Harmonie
Media: mixed media
Size: 100x80
Year: 2004
Coração Razão
domingo, fevereiro 18, 2007
Interpetações
Costuma-se dizer que o "X" marca o local... será do tesouro?
Pode também ser o sinal de multiplicar...
... Ou simbolizar o "errado"...
... Ou uma mera letra do dicionário escolhida ao acaso...
Ficam as interpretações....
Façam as vossas...
Pintura:
José-Manuel Broto - Intervalo VI - 2003
Digital print on paper
100 x 100 cm (39.37 x 39.37 inch)
sábado, fevereiro 17, 2007
abstracto
segunda-feira, janeiro 08, 2007
Ceifeiras
As ceifeiras - António Carvalho de Silva Porto
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Ela canta, pobre ceifeira,
Julgando-se feliz talvez;
Canta, e ceifa, e a sua voz, cheia
De alegre e anônima viuvez,
Ondula como um canto de ave
No ar limpo como um limiar,
E há curvas no enredo suave
Do som que ela tem a cantar.
Ouvi-la alegra e entristece,
Na sua voz há o campo e a lida,
E canta como se tivesse
Mais razões pra cantar que a vida.
Ah, canta, canta sem razão !
O que em mim sente 'stá pensando.
Derrama no meu coração a tua incerta voz ondeando !
Ah, poder ser tu, sendo eu !
Ter a tua alegre inconsciência,
E a consciência disso !
Ó céu ! Ó campo ! Ó canção ! A ciência
Pesa tanto e a vida é tão breve !
Entrai por mim dentro ! Tornai
Minha alma a vossa sombra leve !
Depois, levando-me, passai !
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Ela Canta, Pobre Ceifeira - Fernando Pessoa
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Ela canta, pobre ceifeira,
Julgando-se feliz talvez;
Canta, e ceifa, e a sua voz, cheia
De alegre e anônima viuvez,
Ondula como um canto de ave
No ar limpo como um limiar,
E há curvas no enredo suave
Do som que ela tem a cantar.
Ouvi-la alegra e entristece,
Na sua voz há o campo e a lida,
E canta como se tivesse
Mais razões pra cantar que a vida.
Ah, canta, canta sem razão !
O que em mim sente 'stá pensando.
Derrama no meu coração a tua incerta voz ondeando !
Ah, poder ser tu, sendo eu !
Ter a tua alegre inconsciência,
E a consciência disso !
Ó céu ! Ó campo ! Ó canção ! A ciência
Pesa tanto e a vida é tão breve !
Entrai por mim dentro ! Tornai
Minha alma a vossa sombra leve !
Depois, levando-me, passai !
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Ela Canta, Pobre Ceifeira - Fernando Pessoa
Uma Pintura Vivaz
Virgilio Vaz
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" Era uma vez um menino que vivia numa aldeia dos contrafortes da Serra da Estrela.
Mais exactamente no Paul. Esse menino tinha a curiosa mania de talhar formas em casca de pinheiro. Dessas carochas saíam baixos relevos, figuras locais, personagens fantasmagóricas, que incitavam o miúdo a continuar o seu sonho artístico.
Pois o certo, é que o Virgílio tinha encontrado um grande tesouro. Tinha encontrado a Arte "
Mais exactamente no Paul. Esse menino tinha a curiosa mania de talhar formas em casca de pinheiro. Dessas carochas saíam baixos relevos, figuras locais, personagens fantasmagóricas, que incitavam o miúdo a continuar o seu sonho artístico.
Pois o certo, é que o Virgílio tinha encontrado um grande tesouro. Tinha encontrado a Arte "
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Excerto do texto de Manuel da Silva Ramos, in " Catálogo da Exposição da Pintura" na Galeria da Ordem dos Médicos (02-05-2004)
Excerto do texto de Manuel da Silva Ramos, in " Catálogo da Exposição da Pintura" na Galeria da Ordem dos Médicos (02-05-2004)
sexta-feira, janeiro 05, 2007
Chuva humana!
domingo, dezembro 31, 2006
Miscelanea Cultural
sexta-feira, dezembro 29, 2006
Mensagem Subliminar
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Thomas Hirschhorn - Cavemanman
Wood, cardboard, tape, aluminum foil, books, posters, videos of Lascaux 2, dolls, cans, shelves, fluorescent light fixtures
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"Todos os dias se extinguem espécies animais e vegetais, todos os dias há profissões que se tornam inúteis, idiomas que deixam de ter pessoas que os falem, tradições que perdem sentido, sentimentos que se convertem nos seus contrários. Fim de século, fim de milénio, fim de civilização."
Sobre "A Caverna" de José saramago
Minimalism in Visual Art
Space is concrete
Richard Tuttle “Space-is-Concrete, (21)”, 2005
acrylic, plasticine, & string on spun plastic w/ metal tacks 24 x 17 inches 61 x 43.2 cm SW 06003
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"in Mr. Tuttle's work, less is unmistakably less... One is tempted to say, so far as art is concerned, less has never been as less than this."
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sábado, dezembro 23, 2006
The Architect - Luc Tuymans
Luc Tuymans
The Architect (1997)
Oil on canvas
Collection Staatliche Kunstsammlungen, Dresden
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In terms of his content though, I like the way he can sometimes bring the sinister to something that appears quite innocuous. I remember seeing his painting The Architect (1997). There is an image of a man with a mask-like face on skis, lying on a massive field of white. It was painted from a still taken from home film footage of Albert Speer while on a skiing holiday in the Alps. It was made to connect with other paintings it was exhibited with – paintings of prison camps among them. There was something in the text for the exhibition about a telegram from Speer to Himmler complaining that the prisoners had too much space.
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Peter Doig
domingo, dezembro 17, 2006
Solitários Inofensivos
Susanne Themlitz
( 1968) Sem Título, 2000.
Desenho da série “Solitários Inofensivos”
#10 Carvão sobre papel
Inv. 01 DP1780
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"Alguém que é disforme e boa pessoa – o instinto tende a não achar possível. Porque quase nunca é assim no cinema e nas histórias: os bons são bonitos, nem que seja só no fim. E porque a infância ensinou que quem assusta ou não inspira confiança é parceiro a evitar. Quem se pode impedir de decidir, no primeiro minuto perante um rosto, empatia, medo ou outras coisas?"
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Excerto do comentário de Leonor Nazaré
segunda-feira, dezembro 11, 2006
sábado, dezembro 09, 2006
A captação de um sentimento
quinta-feira, novembro 30, 2006
De Architectura - Marco Vitrúvio Polião
quarta-feira, novembro 29, 2006
Vitruvian Man - Leonardo Da Vinci
Melancolia
Albrecht Dürer, Melencolia I, 1514
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"By Melancholy, saith he, some men are made as it were divine, foretelling things to come, and some men are made Poets. He saith also, that all men that were excellent in any Science, were for the most part melancholy. Democritus, and Plato attest the same, saying, that there were some melancholy men, that had such excellent wits, that they were thought, and seemed to be more divine then humane."
.Heinrich Cornelius Agrippa in Of Ocult Philosophy, Livro I, parte 3
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Albrecht Dürer,
Heinrich Cornelius Agrippa
A chegada do Inverno boreal
Já sei que chegas, Inverno velho! Já sei que trazes - bárbaro! O frio e as longas chuvas sobre os beirais. ...
Então soluças pelas janelas, gemes e imprecas pelos oitões,
galopas louco sobre as rajadas, possesso, ululas entre procelas. E ébrio, nas noites destes rincões
lampejas brilhos de punhaladas.
...
Inútil tudo! Vê que estou firme.
...
Fotografia:
Desfolhada - Fausto Cunha
.
Excertos de "Aqui estou Sr. Inverno" in Romances de estância e querências - Marcas do tempo de Aureliano de Figueiredo Pinto. Ed. Globo. 1959.
Marcadores:
Aureliano de Figueiredo Pinto,
Fotografia
terça-feira, novembro 28, 2006
A fada do mar
Engenhosa sereia rouca e triste!
Foste tu quem nos veio namorar,
E foste tu depois que nos traíste!
E quando terá fim o sofrimento!
E quando deixará de nos tentar
O teu encantamento!"
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Escultura em bronze
A emblemática 'Pequena Sereia' de Edvard Eriksen em Copenhaga inspirada na obra de Hans Christian Andersen.
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Poema: "Mar" de Miguel Torga - História Trágico-Marítima
segunda-feira, novembro 27, 2006
Uma Homenagem...
Em todas as ruas te encontro
Em todas as ruas te perco
conheço tão bem o teu corpo
sonhei tanto a tua figura
que é de olhos fechados que eu ando
a limitar a tua altura
e bebo a água e sorvo o arque te atravessou a cintura
tanto, tão perto, tão real
que o meu corpo se transfigura
e toca o seu próprio elemento
num corpo que já não é seu
num rio que desapareceu
onde um braço teu me procura
Em todas as ruas te encontro
Em todas as ruas te perco
.
Mário Cesariny
Picture: Cesariny - O que está em cima é igual ao que está em baixo
Técnica mista sem papel - 2001
.
Mário Cesariny (09/08/1923 - 26/11/2006)
quinta-feira, novembro 23, 2006
O Néctar dos Deuses
- Quais as três coisas que o beber especificamente provoca?
- "...nariz vermelho, sono e urina. Luxuria, senhor, ele provoca e não provoca; provoca o desejo, mas impede o desempenho."
William Shakespear em Macbeth (conversa entre Macduf e Porter)
Picture: Baco de Michelangelo Merisi (Caravagio) em exposição na galeria Uffizi em Florença
Marcadores:
Michelangelo Merisi (Caravagio),
William Shakespear
terça-feira, novembro 21, 2006
segunda-feira, novembro 20, 2006
Imensidão Onírica
Olhando o mar, sonho sem ter de quê.
Nada no mar, salvo o ser mar, se vê.
Mas de se nada ver quanto a alma sonha!
De que me servem a verdade e a fé?Ver claro!
Quantos, que fatais erramos,
Em ruas ou em estradas ou sob ramos,
Temos esta certeza e sempre e em tudo
Sonhamos e sonhamos e sonhamos.
As árvores longínquas da floresta
Parecem, por longínquas, 'star em festa.
Quanto acontece porque se não vê!
Mas do que há pouco ou não há o mesmo resta.
Se tive amores? Já não sei se os tive.
Quem ontem fui já hoje em mim não vive.
Bebe, que tudo é líquido e embriaga,
E a vida morre enquanto o ser revive.
Colhes rosas? Que colhes, se hão-de ser
Motivos coloridos de morrer?
Mas colhe rosas. Porque não colhê-las
Se te agrada e tudo é deixar de o haver?
Fotografia: Nuno Baptista
Maquina: Canon Modelo: Canon EOS 350D DIGITAL
Exposição: 4/10 sec Abertura: f 18ISO: 100Metering Mode: Average Flash: No FlashDist. Focal: 27 mm
Poema: Olhando o mar, sonho sem ter de quê - Fernando Pessoa
Nada no mar, salvo o ser mar, se vê.
Mas de se nada ver quanto a alma sonha!
De que me servem a verdade e a fé?Ver claro!
Quantos, que fatais erramos,
Em ruas ou em estradas ou sob ramos,
Temos esta certeza e sempre e em tudo
Sonhamos e sonhamos e sonhamos.
As árvores longínquas da floresta
Parecem, por longínquas, 'star em festa.
Quanto acontece porque se não vê!
Mas do que há pouco ou não há o mesmo resta.
Se tive amores? Já não sei se os tive.
Quem ontem fui já hoje em mim não vive.
Bebe, que tudo é líquido e embriaga,
E a vida morre enquanto o ser revive.
Colhes rosas? Que colhes, se hão-de ser
Motivos coloridos de morrer?
Mas colhe rosas. Porque não colhê-las
Se te agrada e tudo é deixar de o haver?
Fotografia: Nuno Baptista
Maquina: Canon Modelo: Canon EOS 350D DIGITAL
Exposição: 4/10 sec Abertura: f 18ISO: 100Metering Mode: Average Flash: No FlashDist. Focal: 27 mm
Poema: Olhando o mar, sonho sem ter de quê - Fernando Pessoa
domingo, novembro 19, 2006
Furor Sagrado No Paraíso Perdido
Olhámo-nos um dia,
E cada um de nós sonhou que achara
O par que a alma e a carne lhe pedia.
- E cada um de nós sonhou que o achara...
E entre nós dois
Se deu, depois, o caso da maçã e da serpente, ...
Se deu, e se dará continuamente:
Na palma da tua mão,
Me ofertaste, e eu mordi, o fruto do pecado.
- O meu nome é Adão...
E em que furor sagrado
Os nossos corpos nus e desejosos
Como serpentes brancas se enroscaram,
Tentando ser um só!
Ó beijos angustiados e raivosos
Que as nossas pobres bocas se atiraram,
Sobre um leito de terra, cinza e pó!
Ó abraços que os braços apertaram,
Dedos que se misturaram!
Ó ânsia que sofreste, ó ânsia que sofri,
Sede que nada mata, ânsia sem fim!
- Tu de entrar em mim,
Eu de entrar em ti.
Assim toda te deste,
E assim todo me dei:
Sobre o teu longo corpo agonizante,
Meu inferno celeste,
Cem vezes morri, prostrado...
Cem vezes ressuscitei
Para uma dor mais vibrante
E um prazer mais torturado.
E enquanto as nossas bocas se esmagavam,
E as doces curvas do teu corpo se ajustavam À
s linhas fortes do meu,
Os nossos olhos muito perto, imensos
No desespero desse abraço mudo,
Confessaram-me tudo! ...
Enquanto nós pairávamos, suspensos
Entre a terra e o céu.
Assim as almas se entregaram,
Como os corpos se tinham entregado.
Assim duas metades se amoldaram
Ante as barbas, que tremeram,
Do velho Pai desprezado!
E assim Adão e Eva se conheceram:
Tu conheceste a força dos meus pulsos,
A miséria do meu ser,
Os recantos da minha humanidade,
A grandeza do meu amor cruel,
Os veios de oiro que o meu barro trouxe...
Eu os teus nervos convulsos,
O teu poder,
A tua fragilidade,
Os sinais da tua pele,
O gosto do teu sangue doce...
Depois...
Depois o quê, amor?
Depois, mais nada,
- Que Jeová não sabe perdoar!
O Arcanjo entre nós dois abrira a longa espada...
Continuámos a ser dois,
E nunca nos pudemos penetrar!
Imagem: Adão e Eva - Miguel Angelo
Poema: Adão e Eva - José Régio
sábado, novembro 18, 2006
Creation of the Sun, Moon and Plants - Miguel Angelo
Intemporalidade
Melting Clocks - Salvador Dali
Passamos pelas coisas sem as ver,
gastos, como animais envelhecidos:
se alguém chama por nós não respondemos,
se alguém nos pede amor não estremecemos,
como frutos de sombra sem sabor,
vamos caindo ao chão, apodrecidos.
Eugénio de Andrade
Passamos pelas coisas sem as ver,
gastos, como animais envelhecidos:
se alguém chama por nós não respondemos,
se alguém nos pede amor não estremecemos,
como frutos de sombra sem sabor,
vamos caindo ao chão, apodrecidos.
Eugénio de Andrade
sexta-feira, novembro 17, 2006
Uma ponte para o infinito dos nossos sonhos
segunda-feira, novembro 13, 2006
Casa da Música - Rem Koolhaas
O desafio era “encaixar” um complexo programa funcional num objecto com uma forma atípica, conseguindo simultaneamente que a estrutura de suporte fizesse parte integrante do conceito espacial do Arquitecto. Para Rem Koolhaas os elementos de que a Engenharia necessita constituem oportunidades e temas que vão dando forma ao espaço. Fazendo sentido estrutural, pilares e paredes inclinadas são trabalhados formalmente e integrados no projecto, não através da sua dissimulação, mas assumindo, por vezes, um protagonismo inesperado. Este processo cria uma liberdade inicial de concepção que, através de um rigoroso controlo formal, conduz ao resultado desejado.
in Ingenium - Ordem dos Engenheiros
Girl With a Pearl Earring - Joahannes Vermeer
- Quero vê-lo.
É verdade que ela usou os meus brincos de pérola?
Porque fizeste isso?
- É só um quadro. Os quadros servem para receber dinheiro.
- Quero vê-lo!
Porque não me pintas a mim?
- É uma encomenda, em breve sairá desta casa.
- Quero vê-lo!
- Deixar-te-á pior.
- Quero vê-lo!
É obsceno!... Quero-a fora desta casa!
Rapariga com Brinco de Pérola de Tracy Chevalier, livro inspirado no quadro de J. Vermeer e que deu origem ao filme com o mesmo nome.
O quadro é um mistério. Pouco se sabe sobre a vida de Johannes. Quem é a modelo? Porque foi pintada? Porque usa um brinco de pérola? O seu enigmático sorriso será inocente? Ou sedutor?...
sexta-feira, novembro 10, 2006
Le Petit Prince - Antoine de Saint-Exupery
Mais il arriva que le petit prince, ayant longtemps marché à travers les sables, les rocs et les neiges, découvrit enfin une route. Et les routes vont toutes chez les hommes.
- Bonjour, dit-il.C'était un jardin fleuri de roses.
- Bonjour, dirent les roses.Le petit prince les regarda. Elles ressemblaient toutes à sa fleur.
- Qui êtes-vous? leur demanda-t-il, stupéfait.
- Nous sommes des roses, dirent les roses.
- Ah! fit le petit prince...
Et il se sentit très malheureux. Sa fleur lui avait raconté qu'elle était seule de son espèce dans l'univers.
quinta-feira, novembro 09, 2006
Pequenos Momentos de Eternidade - Ramarago
Na minha procura,
De enterder a vida...
Encontro a essência de vivê-la,
Em pequenos momentos,
De Eternidade...
Onde me deixo levar,
Pelo sonho...
Pelo vento,
Que sopra nas asas...
E me faz voar,
No meu Céu Azul...
Sem Rumo...
Ficha Técnica:
Maquina: NIKON CORPORATIONModelo: NIKON D50Exposição: 1/200 secAbertura: f 4MeteringMode: Multi-SegmentFlash: Flash, Auto-Mode, Return light detectedDist.Focal: 55 mm
Spring Painting - Nuno Milheiro
quarta-feira, novembro 08, 2006
Gaudí, um romance - Mario Lacruz
"O arquitecto deve procurar sempre as suas leis e entrar em consonância com elas. Por isso digo que a originalidade consiste precisamente em voltar às origens. Todos os que me acusam de inovador estão redondamente enganados! Repara no crescimento desses eucaliptos: é helicoidal. As formas a que chamamos geométricas não abundam na natureza. Mesmo as que o homem faz planas, como portas e mesas, com o tempo tornam-se curvas. Algum motivo haverá, digo eu... Vou usar a forma helicoidal em alguns móveis ou, melhor, em colunas. Mas já sei que se vão escandalizar."
Surrealismo Literário
"Deixa-me sentar numa nuvem a mais alta e dar pontapés na lua que era como devia ter vivido a vida toda dar pontapés até sentir um tal cansaço nas pernas que elas pudessem voar mas não é possível que tenho tonturas e quando olho para baixo vejo sempre planícies muito brancas intermináveis povoadas por uma enorme quantidade de sombras dá-me um cão ou uma bola ou qualquer coisa que eu possa olhar dá-me os teus braços exaustivamente longos dá-me o sono que me pediste uma vez e que transformaste apenas para teu prazer nos nossos encontros e nos nossos dias perdidos e achados logo em seguida depois de terem passado por uma ponte feita por nós dois em qualquer sítio me serve encontrar o teu cabelo em qualquer sítio me bastam os teus olhos (...)"
Mário Henrique Leiria
Mário Henrique Leiria
terça-feira, novembro 07, 2006
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